quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Neverwhere

A série, inspirada em um livro do escritor inglês Neil Gaiman, me despertou curiosidade desde o primeiro momento em que ouvi falar sobre ela, em uma matéria sobre um jogo de computador (?), há uns dois anos atrás. Mais ou menos na mesma semana em que fiquei sabendo da existência dessa série, meu desejo de baixá-la foi imediato (uma vez que, conforme me informara, ela não existe no Brasil à venda e nem estava em exibição na televisão). Encontrei-a por esses programinhas de torrent, porém, faltavam as legendas, e eu sabia que seria de lascar assistir a um filme em que o povo fala inglês com o inconfundível "british accent", incompreensível inclusive pra muita gente. Mas, neste ano, há semanas atrás, tudo mudou: cá está esta maravilha em minhas mãos!

Essa sedutora produção da BBC, de 1996, gira em torno de Richard Mayhew, um londrino com uma vida relativamente normal que, do nada, passa a ficar visível apenas para as pessoas da chamada "London Below" (ou a "Londres De Baixo", o submundo subterrâneo escondido nas catacumbas do "underground", o conhecido metrô londrino) e invisível por pessoas da correspondente "London Above" - a Londres "normal". Na verdade, não é que ele tenha ficado invisível de fato, mas, sim, as pessoas "de cima" conseguem vê-lo, mas esquecem-se dele logo após o terem visto. Essa viagem toda, by the way, tem inspiração em fatos mais ou menos reais, pois essa cidade subterrânea de Londres (ou "mundo" subterrâneo, conforme mencionado na série) realmente é uma lenda urbana da capital britânica um tanto famosa e já outras vezes explorada (como falei ali no início do texto, há um jogo de PC que fala sobre isso).

Ela está dividida em 6 capítulos, cada um com cerca de meia hora de duração. No episódio de abertura da microssérie, Door, Richard Mayhew conhece uma misteriosa mulher chamada justamente de Door (Porta...!), que aparece para ele na rua, bastante ferida e ensangüentada. Ele a leva para casa, após romper com a noiva dele. Lá, ele percebe que se meteu em algo perigoso, pois ela é perseguida por dois estranhos assassinos do submundo (Mr. Croup e Mr. Vandemar). Ao final do episódio, Richard conhece o Marquês de Carrabas, para o qual Door teria prometido um favor muito grande. O episódio seguido, Knightsbridge, trata da passagem de Richard para as entranhas da London Below, através da tal da Knightsbridge; o que muito assusta-o, pois ele é informado de que não poderá ter mais sua vida normal de volta. Nesse episódio, também ficamos sabendo do tal grande favor que Door deve ao Marquês de Carrabas: vingar sua família, assassinada por não vou contar quem (Haha! Vão assistir, seus forgado!).



Em Earl's Court To Islington fica bem visível a doideira do Neil Gaiman: colocar o nome de um bairro londrino (Islington) em um anjo. Esse anjo afirma ter a solução para os problemas de Richard e Door, desde que eles encontrem uma chave para ele, e, para obtê-la, Richard deverá passar por uma provação. Então, em Blackfriars, Mayhew é levado até os Blackfriars (os frades negros), que são os guardiões da chave que ele precisa dar ao anjo Islington, para passar pela provação. A provação é ele resistir a uma tentativa de suicídio, pois as pessoas que tentam conseguir essa chave, durante esse teste, são bombardeadas por ilusões relacionadas aos seus maiores medos. E é nessa provação que ele passa a se questionar se ele não está dentro de um grande pesadelo, de fato - como se ele estivesse apenas dormindo ou mesmo ficando louco. No penúltimo episódio, Down Street, Door é raptada por Mr. Croup e Mr. Vandemar, e Richard enfrenta a Grande Besta de Londres, que aparecia para ele durante uma espécie de transe e em sonhos. Para fechar, em As Above, So Below, Richard acaba tendo de decidir em qual dos mundos permanecerá.


Além de ser uma produção muito bem trabalhada, tecnicamente falando, com ambientes bastante cavernosos e bem representados dessa forma, é uma série que acaba tendo um fundo de questionamento social. Será que todas as pessoas de uma cidade, Estado, país, vivem em uma mesma sociedade, com mesmos níveis de acesso, tratamento? De que modo elas são vistas pelas outras pessoas ditas normais? Do mesmo modo? Bem, ela deixa clara a mensagem, ao colocar os habitantes do submundo como "invisíveis" aos dominantes - ou, pior ainda, "desprezados", já que são vistos, porém, esquecidos por essas pessoas. Além desse fator, ela é um prato cheio para quem simplesmente curte fantasia, mistério e surrealismo (ambas bem coisas de Neil Gaiman) e acredita em "mundos paralelos". No caso de Neverwhere, esse parece ser bem real.

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