terça-feira, 29 de julho de 2008

Atração: Um Estímulo Do Meio

Num dia desses, lembrei-me de uma fala de um professor do tempo que eu estudava na UFSM, responsável pela disciplina de Teorias da Comunicação. O cara era casca grossa, não tolerava uso de sinônimos em suas provas - sim, a gente tinha que escrever exatamente como ele passava o conteúdo no quadro, metodicamente. Eu, porque sou bom cordeiro demais, acabei me dando bem com ele.

Eu sempre procuro enxergar que as pessoas não são 100% ruins nem 100% boas. Elas sempre possuem algum desvio, como, do mesmo modo, sempre possuem algo a ensinar ou nos passar. Esse professor transformou, de um chavão turvo - e aparentemente sem utilidade prática a curto prazo - a uma verdade clara como a luz da lua, a seguinte afirmação: se você não se gostar, ninguém gostará de você.

A conclusão a que cheguei, a partir daí, não veio a partir de uma conversa no boteco do 74 - o bloco onde tínhamos essa cadeira -, claro. Teorias da Comunicação é uma disciplina do curso de Comunicação Social, que, no caso da UFSM, abrange três habilitações: Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas (A minha era Jornalismo), e as três habilitações faziam possuíam essa disciplina em seu currículo, logo, tinham aulas juntos os alunos dessas habilitações.

É numa aula dessas que o professor larga a seguinte idéia - segundo ele, dirigida aos futuros publicitários - : "Vocês deverão saber atribuir valor aos produtos para os quais farão campanhas publicitárias. Se vocês não atribuírem um valor, atenderem uma necessidade do público, não venderão nada." E ainda emendou: "Comunicação persuasiva não existe. Se a pessoa não se sentir seduzida, de alguma forma, por tal produto, ele não servir para algo dentro das necessidades dela, então, ele nada significará."

Isso também pode ser transposto para nós mesmos, enquanto pessoas, não produtos. Se queremos ser atraentes, para então seduzirmos alguém, devemos atribuir um valor a nós mesmos; uma qualidade que nos faça especiais, diferentes, distintos. Que nos torne únicos em relação aos outros 6 bilhões de habitantes do planeta, como se só nós tivéssemos aquela qualidade. E, é claro, não basta apenas termos essa qualidade: precisamos acreditar no poder dela, para que possamos demonstrá-la.

O que é a sedução? Bem, o vocábulo é a junção de duas palavras latinas, "se" e "ducto", e quer dizer "desviar do caminho", ou seja, fazer uma pessoa mudar de idéia; persuadi-la, convencê-la. Ela é normalmente precedida da atração, que, segundo o Mystery, é a primeira parte do processo de sedução. E a atração, que vem a ser? A atração, ou aquilo que nos atrai, é algo que nos chama a atenção, que também nos desvia do caminho, afinal, é algo anormal no meio, algo diferente daquilo que estamos acostumados a ver e do modo com o qual estamos acostumados, fazendo com que nossas percepções e sentidos sejam voltados para esse "algo", nos desviando de ver o resto. Mesmo o esquisito pode ser (e é, nesse caso) atraente.

Imagine a seguinte situação: você está caminhando em uma rua quando vê um chimpanzé multicolorida (vamos colocar aqui verde, azul calcinha e um rosa shock). Ao avistar esse chimpanzé, você se sente atraído, pois sua atenção foi voltada a essa "anomalia" do meio, uma vez que não são comuns chimpanzés multicoloridos. Ele gerou atração porque ele é diferente, tem algo de especial - no caso, a sua forma.

Para podermos ser atraentes, devemos procurar esse chimpanzé dentro de nós. Essa característica/habilidade única, especial, perturbadora, a fim de gerar esse "estranhamento", de maneira a nos tornarmos um estímulo do meio, perceptível aos outros. Descobrir essa característica que nos faça seres mágicos é uma árdua tarefa, que requer um grande empenho de auto-conhecimento.

É daí que vem a afirmação clichê que ouvimos, a tal de "se você não se gostar, ninguém gostará de você". Se você não possuir algo de especial (como eu disse, uma característica, ou uma habilidade), você não poderá demonstrar esse algo para as pessoas. É um problema até de natureza lógica: como você pode mostrar algo que você não tem? Por exemplo: fico gritando para você "estou com uma espada na mão, vou te matar!" Como posso querer demonstrar isso pra você, se eu de fato não possuo uma espada na mão, fazendo com que você não a veja?

Como dito: você precisa se demonstrar atraente. E, SOMENTE SENDO/SABENDO esse "algo de diferente" é que você ENTÃO PODERÁ partir para o próximo estágio (e mais "prático"): DEMONSTRAR. Se você não tem, você não pode demonstrar. E, se não demonstra, ninguém vê.

Agora ouvindo: Kruder & Dorfmeister - Spellbound